quinta-feira, 17 de julho de 2008

Grupo fará campanha para esclarecer uso de cobaias

No cinema, antes de começar o filme, uma propaganda falará da importância e mostrará os usos práticos da experimentação animal, como o teste para garantir a segurança da vacina de febre amarela antes de ser aplicada nas pessoas.

Essa foi a proposta anunciada na 60ª reunião anual da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), em Campinas, para conscientizar o público sobre a importância do uso de cobaias. O Ministério da Ciência e Tecnologia sinalizou com a liberação de recursos e os cientistas já estão em negociação com redes de cinema e emissoras de televisão.

A preocupação de cientistas em explicar como e para quê é feita a experimentação animal se acentuou após a proposição de leis que tentam proibi-la, em cidades como Rio de Janeiro e Florianópolis. Pesquisadores esperam que a lei Arouca, que regulamenta a pesquisa com cobaias e permite seu uso controlado, seja aprovada pelo Senado e entre em vigor, tornando as leis municipais nulas. Os protestos de ativistas de direitos dos animais, porém, poderão continuar a despeito da lei.

O responsável pelo projeto de criar anúncios de conscientização, Marcelo Morales, presidente da Sociedade Brasileira de Biofísica, diz que o valor para produzir uma campanha nacional seria de R$ 1 milhão.

"É uma ação de utilidade pública", diz. Segundo ele, o projeto seria uma reação a ativistas anticobaias que "confundem" o público. "Há campanhas de ONGs muito bem articuladas, com direito a filmes não educativos, que confundem experimentação animal -que usa ética- com maus tratos." O projeto de Morales tem apoio da Federação de Sociedades de Biologia Experimental.

O tema dos testes em animais ganhou destaque neste ano na reunião da SBPC --é um dos núcleos do encontro e conta com duas conferências, quatro mesas-redondas (sobre avanços tecnológicos, modelos alternativos, ética e legalização do uso de animais em laboratórios) e um fórum dos comitês de ética de universidades e institutos de pesquisa.

Esse foi, até agora, o assunto mais polêmico da reunião. Numa conferência ontem de manhã, um grupo fez um pequeno protesto e entregou folhetos aos participantes. Os manifestantes escreveram no chão "fim dos testes em animais" e levaram ao auditório uma faixa com palavras de ordem.

No panfleto, o grupo diz que "a experimentação animal é diretamente responsável pelo aumento do câncer, doenças do coração, defeitos físicos, Aids". E fala que o uso de "animais artificialmente doentes é o de uma informação não aplicável aos seres humanos e, sendo assim, tragicamente enganador".

O mestrando em antropologia Daniel Ramiro, 26, e o doutorando em antropologia Felipe Velden, 30, participaram do protesto. Ramiro é adepto do "veganismo" --não consome nenhum produto de origem animal. Parou de tomar cerveja porque as empresas patrocinam rodeios. Nenhum dos dois acredita que os novos medicamentos precisem ter sua segurança testada em animais antes de serem dados a humanos.

A coordenadora dos eventos sobre o tema na SBPC, Regina Markus, é presidente da Sociedade Brasileira de Farmacologia e Terapêutica Experimental. Ela defende o uso de cobaias supervisionado por comitês de ética e considera positivas as manifestações contrárias, pois elas reforçam a necessidade de a lei Arouca disciplinar a prática de pesquisa.

"Nós tentamos há muito tempo ter um marco legal. Foi na realidade a contundência, o contraponto, que tornou pública a necessidade de um marco legal", disse. "Vamos aproveitar a existência de opiniões diversas para criar o novo."

Fonte: Folha de S.Paulo

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