terça-feira, 25 de novembro de 2008

Extinção e desmatamento ameaçam dispersão de sementes

Há 15 mil anos, as sementes do jatobá eram dispersas por mamíferos que foram extintos com a chegada do homem à América. Para substituí-los, a cutia, uma dispersora secundária da planta, passou lentamente a assumir essa função. Mas como o desmatamento e o risco de extinção de animais podem afetar essa relação hoje? Um estudo do professor Mauro Galetti, do Departamento de Ecologia da Universidade Estadual Paulista (Unesp), busca uma resposta para a questão. A equipe de Galetti está montando um banco de dados sobre a interação de animais frugívoros (que comem frutas) com os vegetais da Mata Atlântica e de Bonito (MS).

Segundo Galetti, a dispersão de sementes é um fenômeno da natureza que ocorre desde a época dos dinossauros, que foram os primeiros dispersores. Hoje, são os animais frugívoros - aves, mamíferos e peixes - que comem a polpa dos frutos, engolem as sementes e devolvem-nas à terra por meio das fezes. Assim, elas podem brotar e garantir a continuidade da espécie. "Apenas 10% das plantas utilizam os fatores abióticos (chuvas, ventos e rios) na dispersão", afirma Galetti. "90% delas aproveitam os animais frugívoros."

Acooperação é essencial para que as plantas mantenham determinadas espécies de animais na região. Os animais dependem das plantas para se alimentar, e elas deles para se reproduzir. Segundo Galetti, a relação é ameaçada pelo desmatamento e pelo risco de extinção de animais como a anta, monos-carvoeiros e cutias. "Ao contrário do que ocorreu com os dinossauros, os animais estão desaparecendo de forma brusca na natureza, e muitas espécies de plantas não conseguem dispersar suas sementes. Sem essa dispersão, a floresta não tem como se regenerar."

Com caderneta de campo e binóculo, o pesquisador observa os animais que dispersam e os que predam as sementes. O método observacional é aplicado em duas regiões: em matas de encosta fragmentadas na Mata Atlântica, que sofrem grande impacto com a caça de animais, e em áreas fragmentadas de florestas secas do estado de São Paulo. Os pesquisadores comparam o impacto do desmatamento no processo predatório e na dispersão nos dois ecossistemas. "Além da perda de dispersores, observamos um crescimento no número de predadores de sementes, como pombas ou esquilos", aponta Galetti.

Para montar o banco de dados, os pesquisadores estão catalogando cerca de 1400 espécies de plantas da Mata Atlântica para verificar os processos de dispersão em diferentes tipos de árvores e relacioná-los com as características típicas da região (clima e solo), que determinam as espécies de animais locais. Segundo Galetti, as primeiras conclusões do estudo revelam que a maioria das áreas analisadas precisa sofrer interferência humana para manter a biodiversidade. "Algumas espécies vegetais não têm mais seus dispersores, que desapareceram da região ou foram extintos", explica. "O impacto é um efeito-dominó que já atinge várias camadas da cadeia alimentar."

Cristina Souto

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