terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Vida de cão a serviço da sociedade

Cachorros policiais são treinados desde o nascimento e gozam de uma aposentadoria cheia de mimos.

"Greta", "Ranna" e "Ajax" são policiais, mas com quatro patas. São treinados para descobrirem tóxicos. A rotina de treinos começa cedo. Às sete da manhã os cães policiais já estão preparados para os exercícios que duram até as dez horas, de segunda a sexta-feira. Os animais começam a trabalhar ainda filhotes, porém, tudo ocorre como se fosse uma brincadeira. Os primeiros treinos são feitos com bolinhas de crianças. Quando o animal completa um ano de vida já está preparado para as operações policiais, geralmente, saem três cachorros para um turno de oito horas diárias.

Um dos centros de treinamentos para cães é o Canil São Lázaro, da Polícia Militar (PM), que em quase 26 anos de existência é referência nacional quando o assunto é adestramento. A unidade conta hoje com o efetivo de 53 policiais e abriga em suas dependências, com mais de mil metros quadrados, um número de quarenta cães de várias raças como: Pastor Alemão, Rottweiler, Beagle, Golden Retriever e o Retriever do Labrador.

O Canil que tem licitações para sua manutenção no valor de R$ 100 mil por ano, conta com um grande campo para treinamento, dois pavilhões com 18 boxes cada um, berçário com seis boxes, sala veterinária e uma maternidade com capacidade para duas cadelas. Na instituição existem dois tipos de treinamentos. Um é para os cães que trabalham na identificação de entorpecentes e explosivos e o outro é para os animais de demonstração que são treinados para exibições em escolas e mostras de adestramentos em eventos oficiais.

A alimentação dos cães é feita quatro vezes ao dia respeitando o limite de 500 gramas por refeição para os cães de um ano e 100 gramas para os filhotes. Segundo o cabo Nogueira da 4ª Companhia do Batalhão de Choque, responsável pelo Canil, antigamente as coisas eram bem mais difíceis, mas agora têm melhorado bastante. "Hoje temos a melhor estrutura possível. Um número considerável de animais, além de medicamentos e, é claro, viaturas", declarou.

Treinamento. Os cães que são treinados para farejar drogas, usam um tubo de plástico em seus focinhos até os oito meses de idade ou um ano. Nos tubos são colocadas essências das drogas (maconha, cocaína, crack...) a partir das quais o animal irá associar o odor da droga. "Muitas pessoas pensam que os cachorros são viciados em droga, mas tudo isso é um mito, pois eles não têm contato nenhum com a droga. Apenas com o odor em que ele faz uma ligação a um brinquedo que colocamos pra ele. Esses são os cães mais bem adestrados a nível mundial", analisou o cabo Nogueira.

Para os que vão trabalhar com explosivos, o treinamento começa a partir de um ano. A brincadeira é feita com uma caixa de madeira que tem perfurações onde é colocado um odor de pólvora para o cão identificar. Os animais são adestrados para quando sentirem o cheiro da pólvora sentarem e não latirem ou produzirem qualquer som. O gesto de sentar indica que ele achou o explosivo. Nesse momento, vem a recompensa: o adestrador o retira do local para lhe dar um prêmio. Os cães do Canil que participam desses treinamentos ainda não foram utilizados em operações.

Já o treinamento de cães para trabalhos ostensivos acontece de forma diferente, pois não é levado como brincadeira e sim como coisa séria. Os policiais adestradores usam uma pessoa como figurante, com uma roupa especial que garante a integridade física dela. Os cachorros passam por um treinamento onde são condicionados a capturar e mobilizar, evitando que os policiais usem uma arma. Hoje, 22 cães da entidade são preparados para operações ostensivas.

» Início. O cabo Nogueira, que trabalha no Canil desde sua fundação, lembra do início quando a instituição tinha apenas quatro boxes e quatro cachorros da raça Pastor Alemão. Ele conta que sempre gostou de cachorros, por isso foi trabalhar no Canil. Durante seus 25 anos de serviço já teve quatro cães. O seu último cão foi o "Caribe", um Pastor Alemão de quatro anos adestrado em faro de entorpecentes e credenciados pela força nacional. O animal morreu no começo do ano. "Ainda estou tentando me recuperar com a perda dele e estou procurando um filhote para substituí-lo, pois não é só chegar e escolher, é preciso ter uma afinidade com o cão", revelou.

» Especiais. "Greta", "Ranna", e "Ajax" são os únicos, hoje no Estado, credenciados pela força nacional e que podem ser solicitados para participar de operações em todo o País. Já "Máximos", um Pastor Alemão, com apenas dois anos de idade, é o atual campeão cearense de adestramento, título oficializado pela Sociedade Cearense de Criadores de Cão Pastor Alemão. Ele participa de apresentações em escolas e eventos, além de trabalhar no policiamento ostensivo de busca e captura.

Uma das grandes operações realizada com a colaboração do Canil foi um evento realizado pelo Banco do Nordeste do Brasil (BNB), onde estavam presentes autoridades de diversos países, e foram utilizados mais de quinze cães para operações ostensivas e de faro de pólvora.

Os cães também estiveram presentes na rebelião do Instituto Penal Paulo Sarasate (IPPS) em 1994, quando o bispo Dom Aloísio Lorscheider foi mantido como refém. Mais de seis animais foram utilizados nas buscas e capturas. Eles também estão sempre presentes nos estádios durantes as partidas de futebol.

» Aposentadoria. O cão depois de completar oito anos de serviço entra no processo de aposentadoria. O policial adestrador tem a prioridade de ficar com a guarda do cachorro podendo levar para a sua residência ou deixá-lo sob os cuidados do Canil.

Na entidade, o cão mais velho é o "Nilo", um Pastor Alemão que está hoje com onze anos de idade. O seu responsável, cabo Paiva Freire, o deixou no canil por não ter local para criá-lo. "Nilo" goza sua aposentadoria com cuidados de banho, brincadeiras e passeios depois de prestar serviços para a sociedade durante toda sua vida.

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