segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Fezes de cães não recolhidas oferecem riscos à saúde


Um passeio ao ar livre faz bem tanto para a saúde dos cães quanto para seus donos, e a prática regular de atividades físicas ajuda no combate a doenças e a melhorar a qualidade de vida de ambos. O problema é quando esses passeios se tornam pretexto para que os animais de estimação façam de banheiro as calçadas dos vizinhos.

O diretor do Curso de Veterinária da Uniban (Universidade Bandeirante de São Paulo), José Alberto Pereira da Silva, explica que além de causar mal-estar por conta do odor desagradável, as fezes deixadas nos locais públicos podem transmitir doenças. "As fezes são eliminadas com ovos de parasitas, que podem gerar enfermidades como o bicho geográfico e lombrigas. Correm riscos tanto o homem quanto o próprio animal", alerta.

Segundo Silva, dependendo do grau de infecção, as parasitoses, como são conhecidas essas doenças, podem levar à morte. "E o perigo é muito maior para as crianças, pois, na maioria das vezes, elas têm uma noção de higiene que ainda não é adequada e acabam tocando nas fezes, areia ou grama contaminadas", afirma.

A comerciante Heliomara de Oliveira Pinheiro, 36 anos, moradora do Parque São Vicente, em Mauá, presencia esse risco diariamente. "Na frente da minha casa tem uma praça que acaba sendo usada por muitas pessoas como banheiro de animais. Muitos donos trazem seus cães apenas com o objetivo de transferir a sujeira que seria feita em suas casas", afirma.

De acordo com Heliomara, nos dias quentes, quando há aumento do número de cães circulando pelo local, a praça se transforma em um verdadeiro ''campo minado''. "É exatamente nesses dias de calor que a praça vira ponto de lazer das crianças e elas acabam brincando nas proximidades das fezes. Eu não sou contra os cachorros e acho que eles devem passear, mas os donos têm que se responsabilizar pela sujeira", diz.

No caso da cabeleireira Rosana Silva, 39 anos, moradora do bairro Jardim, em Santo André, o incômodo é ainda maior, já que as fezes são depositadas na entrada de sua casa. "Tenho grama e árvores na minha calçada e, por isso, algumas pessoas trazem os cães para defecar aqui. Alguns até recolhem, mas outros já chegaram a colocar a sacolinha com o cocô dentro do arbusto", revela. Rosana já pensa em retirar a grama para evitar o abuso dos vizinhos. "Mas não acho justo que eu tenha que tomar tal atitude, já que temos tão pouco verde na cidade. As pessoas acabam violando o meu direito de ter uma calçada ecológica", afirma.

Consciência - Foi exatamente com um alerta de uma vizinha que a dona de casa Joyenzylde Dornelas, 42 anos, moradora do bairro Demarchi, em São Bernardo, mudou seu hábito. Ela costumava passear com seu labrador duas vezes ao dia e não recolhia as fezes do animal. "Um belo dia levei o Maddox a uma praça e percebi que uma moradora das redondezas estava me olhando feio. Até que ela chegou e perguntou se eu não tinha vergonha de não coletar o cocô", lembra.

Joyenzylde conta que a situação foi tão constrangedora que ficou sem argumentos para responder à mulher. "Eu achava que as fezes se decomporiam sozinhas, por isso não recolhia por inocência. Agora sei que a coleta é uma forma de garantir a saúde de todos que passeiam pelo local. No fim, aprendi minha lição e acabei fazendo amizade com a zeladora da praça. Hoje, revezo a limpeza do local com ela", afirma.

Legislação - Nas sete cidades do Grande ABC, não existem leis que determinem punição para os donos que deixam as fezes dos animais nas ruas. Porém, para o veterinário José Alberto Pereira da Silva, a prática de recolher esses dejetos é uma questão de saúde pública. "A posse responsável do animal vai além dos cuidados básicos com alimentação e vacinação, uma vez que o dono deve se atentar também aos atos dos cães, como as fezes, por exemplo", afirma.

Para Silva, as pessoas precisam encarar a prática de coletar os dejetos como forma de exercício da cidadania. "As pessoas só se preocupam quando há mordeduras de animais a crianças, carteiros e leituristas. Nestes casos, os donos são efetivamente responsabilizados, mas por que isso também não se amplia às fezes? Com esse ato, o dono acaba colocando a saúde de todos em risco. As ruas só ficarão livres de doenças para os animais e pessoas quando os donos assumirem seu papel de cidadão", defende.

Fernanda Borges
Do Diário OnLine

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