"Quantas espécies têm aqui?", questiona Mariana Piccini, 11, tentando decifrar a quantidade de peixes do Aquário de São Paulo. Enquanto a mãe se dirige a um monitor, a menina se deslumbra com a variedade de animais. "São 1.200 exemplares de 150 espécies diferentes", informa Ricardo Cardoso, oceanógrafo e gerente do departamento técnico, ao radiografar o dia-a-dia do espaço que recebe 7.000 visitantes por mês.
Além da diversidade, chama a atenção o oceanário de tubarões, com seus 5 m de profundidade e 1 milhão de litros de água salgada. Produzida ali mesmo pelos biólogos, a água recebe uma mistura de diversos sais elaborados especialmente para aquário.
O oceanário é, na verdade, uma enorme cabine subaquática com paredes e teto de acrílico, que dá ao visitante a sensação de estar dentro de um submarino no fundo do mar. Ali, além dos tubarões-lixa, nadam livremente garoupas, arraias-prego, miraguaias e tainhas, entre outros peixes.
Por volta das 13h, é hora de alimentar os animais. No dia da reportagem, a tarefa coube ao monitor Carlos Belizoti. Ele coloca a roupa de mergulho e prepara a cesta, onde cabem 2,5 kg de peixes congelados, entre pescadas e sardinhas. A vasilha é tampada para evitar que os peixes entrem e devorem tudo. "Não teríamos controle de que todos foram alimentados", explica Carlos, que vai "servindo" o almoço com as próprias mãos.
Diariamente, é oferecido um banquete às atrações do aquário: são aproximadamente 10 kg de peixe, 2 kg de carne, 5 kg de frutas, verduras e legumes e 3 kg de rações, além de minhocas, grilos e lambaris vivos.
Os tubarões são os que mais têm apetite. Comem cerca de 1,5 kg de peixe por dia. As espécies de pequeno porte são as que consomem menos: de quatro a cinco grãos ou flocos de ração. As bombinas, espécie de perereca asiática, se alimentam de apenas uma minhoca ou um grilo pequeno por dia.
Munido de tanque de oxigênio e máscara, o biólogo sobe as escadas que levam ao topo do grande aquário. Lá de cima, luzes artificiais iluminam o ambiente. É como estar no alto de um trampolim de uma piscina repleta de peixes e, lá no fundo, um aquário humano, formado pelas pessoas que passavam por dentro da edícula submersa.
Já dentro do tanque de vidro, o especialista e "garçom" vira entretenimento. Os visitantes param para observá-lo, enquanto alimenta os peixes. Um a um, Carlos Belizoti entrega a comida congelada na boca dos peixes -sejam pequenos, sejam grandões. O procedimento leva cerca de uma hora. Os tubarões, desconfiados, se arriscam aos poucos na aproximação em busca do alimento.
Tanques e filtros
O tanque maior, no centro, fica rodeado de outros 39 menores. No total, são 29 de água doce e 11 de água salgada, moradia de dourados, pintados, pacus, piaus e piaparas, entre outros peixes.
Para dar conta de tantos moradores, o Aquário de São Paulo conta com um reservatório de cerca de 1,2 milhão de litros de água, renovado a cada semana. A água doce utilizada no aquário provém da rede de abastecimento municipal, e o restante, de fornecedores de água potável.
Nenhum dos recintos é desmontado completamente para a troca do líquido. Os peixes ficam nadando sossegadamente, enquanto o sistema de filtragem suga de 5% a 10% da água suja para ser jogada no esgoto.
Para garantir a saúde dos animais, são controlados e limpos diariamente os pré-filtros das bombas e os retentores de sólidos das cascatas biológicas. Toda semana, os biólogos fazem uma "aspiração" do substrato de fundo, com mangueiras e bombas de sucção e uma retrolavagem dos filtros de sólidos. "Não há problema em fazer tudo isso com os animais dentro, porque eles se afastam durante o procedimento", explica o oceanógrafo.
Todos os animais foram adquiridos com autorização do Ibama, mesmo procedimento válido para o Jardim Zoológico. Alguns vêm de criadores comerciais ou conservacionistas, outros de distribuidores comerciais autorizados. "Restringimos a captura na natureza apenas aos que não se reproduzem em cativeiro", afirma Ricardo.
Cobra ferida
A sucuri, por exemplo, foi capturada. Depois de aparecer numa fazenda, em Bauru, foi esfaqueada e largada à morte. Policiais ambientais encontraram o bicho quase sem vida e o levaram ao zoológico da cidade, onde ficou por um ano até a recuperação. "Ela não podia voltar à natureza, porque os ferimentos causaram seqüelas musculares graves que acreditamos ter afetado sua habilidade em capturar alimentos", explica o oceanógrafo.
A sucuri hoje é o maior animal do aquário, com seus impressionantes 6 m. O menor é um peixinho amazônico, o neon, com aproximadamente 3 cm de comprimento.
As cobras são os animais que têm alimentação mais curiosa. De madrugada, enquanto alguns peixes dormem, as jibóias são alimentadas com um ou dois ratos, e só comem uma vez por semana. Já a sucuri, a cada 15 dias, é alimentada de aves de grande porte, como patos e gansos vivos.
Os répteis comem de duas a três vezes por semana. O cardápio é composto de fígado, coração e língua de boi, além de frango. Dois biólogos fazem o procedimento: enquanto um observa os bichos, o outro coloca a alimentação dentro do recinto.
Os animais também não se livram dos exames médicos. A cada semestre, todos passam por testes biomédicos, como a verificação do peso e tamanho. Cuidados para se mostrarem saudáveis e belos aos visitantes.
Curiosidades
Quantidade de aquários:40
Número de peixes: 1.200
Número de espécies: 150
Número de funcionários: 15
Volume de água: 1,2 milhão de litros
Alimentação diária: 10 kg de peixe, 2 kg de carne, 5 kg de frutas, verduras e legumes e 3 kg de rações
Maior aquário: oceanário com capacidade para 1 milhão de litros de água salgada
Menor aquário: reservado para os tritões ibéricos, com apenas 5 litros de água doce
Maior animal: sucuri de 6 m
Menor animal: o neon, peixe amazônico de 3 cm
Aquário de São Paulo
Quando: De segunda a domingo, das 9h às 18h
Onde: R. Huet Bacelar, 407, Ipiranga, tel. 0/xx/11 2273-5500
Quanto: R$ 20 por pessoa. Crianças menores de 3 anos não pagam. Maiores de 60 anos pagam R$ 10. Às segundas-feiras, todos pagam meia-entrada (R$ 10)
Fonte: Folha Online